Ser líder de louvor é muito mais do que montar um setlist de músicas bonitas ou ter uma boa voz. É sobre estar sensível a Deus, conectado com a igreja e disposto a servir com humildade. É sobre aprender a estar em adoração ao mesmo tempo em que observa o que Deus está fazendo naquele dia, naquela hora, em meio à igreja local, e se adequar a isso. Você já pode imaginar que isso vai exigir todos os níveis de preparo: espiritual/devocional, técnico e até pastoral. Aqui vão cinco “mandamentos” que todo líder de louvor deveria guardar no coração — e aplicar com sabedoria e diligência. Acordei pensando nisso nesta manhã e acabei com esse texto bem simples e direto.
Jesus disse que não fazia nada por si mesmo, mas apenas o que via o Pai fazer. Isso também vale para o líder de louvor: não diga mais do que o necessário, evite repetir frases de comando a todo tempo ou jargões que aprendeu ouvindo outros bons líderes. Descubra a sua forma de discretamente e quase invisivelmente guiar a igreja na direção que você preparou em oração e que entende estar alinhada com a direção do Espírito. Indo direto ao ponto: Nem toda transição precisa de um mini-sermão ou de uma explicação da música antes de começar a cantar. Como por exemplo, apontar para a igreja: “vamos declarar agora quão grande é o Senhor…” antes de começar a cantar “Grande é o Senhor”. Eu já fiz muito isso. É até natural fazer isso; mas precisamos saber que não é necessário. Você tem sua voz e toda a banda com você. Use a música. Deixe fluir, valorize pausas e silêncio. Confie na letra das canções que escolheu. Às vezes, não damos tempo para igreja processar no coração o que acabaram de cantar com o entendimento racional. Deixe o seu setlist respirar e cumprir o propósito dele.
Ou seja, o segredo parece ser falar somente o que Deus está dizendo em seu coração enquanto lidera e busca ouvi-lo ativamente. E não temer não dizer nada, se nada específico tiver que ser dito. Quanto mais alinhadas as palavras e ações estiverem com o que o Pai quer comunicar, mais impacto haverá. Fale pouco, fale menos, mas, se precisar, fale com propósito. Eu costumo pensar que há aspecto profético na direção da adoração. Mas é um assunto para outra hora. Guarde isso: não é nosso papel convencer a igreja a adorar. O que nos leva ao seu ponto.
No tempo de celebração congregacional (ou culto), a igreja é a noiva e Cristo é o noivo. O líder de louvor tem o papel simbólico de conduzir a noiva até o noivo — com honra, reverência e muito cuidado. Não é sobre você. Quando as pessoas saem de um casamento, se a imagem na memória é a do pai da noiva, algo deu muito errado. E essa metáfora para por aqui, pois nem mesmo a noiva é o centro, e sim o noivo. De qualquer forma, podemos ainda utilizar a ideia de que ela sempre deve caminhar em direção ao Noivo. E o pai da Noiva, ou seja, você, líder de adoração, deve facilitar essa aproximação, jamais atrapalhar, distrair ou forçar acontecer. Seu papel é apontar para Jesus e sair da frente, para que todos vejam apenas Ele. Lembre-se: o centro do culto não é a sua performance, mas a presença de Cristo. E o que você nãodeseja de forma alguma é atrapalhar esse encontro. Confie que o Espírito do Noivo é capaz de atrair a Noiva para Si. A música e as palavras apoiam e criam a atmosfera que facilita e promove esse encontro. Mas todo o resto desejamos que seja naturalmente sobrenatural. E, no final das contas, você também é parte da Noiva. Apenas seja o primeiro a ir em direção ao Noivo. Mas, sempre espere pelos seus irmãos e irmãs. Você não quer chegar lá sozinho.
“Devemos, então, fazer tudo de maneira bem solta, sem muito planejamento e só deixar fluir? Deus no comando?”
De maneira alguma! Excelência, integridade e simplicidade devem andar juntas. O tempo de adoração congregacional precisa ter direção. O pregador já se preparou para entregar algo de Deus, não deve ser diferente com a adoração. Afinal, usando a metáfora do casamento, tudo o que for possível ser pensado e preparado com antecedência deve ser feito. É o que fará, na verdade, com que “deixar fluir” seja de fato possível. Quem está seguro responde melhor à dinâmica do Espírito. Então pense: Quais verdades você quer reforçar? Que atmosfera está sendo construída? Aonde você quer que a igreja chegue em algum momento desse tempo de adoração com cânticos? Como a sequência de músicas pode conduzir a igreja a um momento de entrega mais profundo? Como as canções podem ajudar a congregação a responder a um Deus tão grandioso e amoroso que os tem sustentado de domingo a domingo? Um bom setlist é o roteiro que ajudará a igreja a “sair” do natural e “entrar” no espiritual, indo além da música e encontrando o coração de Deus. Pesquise e estude as melhores técnicas de preparação de setlist. Tem muita coisa boa sobre isso nos materiais da Vineyard. Esse terceiro “mandamento” é essencial na prática dos dois anteriores. Trabalhe o roteiro, tendo mente o primeiro ponto e com expectativa de ver o segundo ponto se concretizando.
“Eu não gosto de tanta regra, a técnica atrapalha ouvir o Espírito!”
É verdade, excesso de técnica na hora errada e com propósito errado pode colocar tudo a perder. Mas falta de técnica faz isso ainda mais rápido. O ponto aqui não é esse. Um jovem com um violão levemente desafinado, tendo o coração no lugar certo, pode ser mais útil para a congregação do que uma banda de alto nível. Isso se esse jovem souber discernir a “interferência do chefe”. E aí entra também a técnica. Discernir possíveis mudanças de direção do Espírito e conseguir aplicá-las no meio de algo já bem ensaiado não é tarefa fácil para qualquer um. Mesmo assim, é importante, na forma como estamos buscando praticar a adoração na igreja, que você esteja atento ao Espírito. Não tem que acontecer nada diferente… mas pode acontecer. Você pode planejar tudo… mas o Espírito Santo pode mudar tudo. E está tudo bem. O líder de adoração maduro sabe ouvir e obedecer. Às vezes, Deus interrompe com um silêncio, uma oração ou uma música não planejada. Se Ele quiser virar à direita, você vira também. Se Ele quiser desacelerar, desacelere. Maleabilidade vale mais do que perfeição e muito mais do que cumprir seu plano original. Porém, a maioria dos dias serão mais “normais” e seu plano bem praticado será igualmente usado por Deus. Essa é a beleza de trabalhar para o “chefe”. Você não precisa confiar no que seus olhos veem, mas saber que Deus sempre opera de forma independente de resultados aparentes. Descanse nisso enquanto faz sempre o melhor que você pode.
Sim, é sério. Nossa tendência é ficar animado com um ensino novo (ou antigo mas renovado) de como praticar a adoração e entrar de cabeça nele. Depois de uns meses, talvez alguns anos, caímos na rotina e começamos a ficar mal-acostumados.
“Eu já sei como fazer um bom setlist e liderar adoração.”
Por isso esse passo de voltar aos anteriores é importante. A prática e a repetição desses “mandamentos” vão gerar em nós maturidade e até mesmo nossa identidade pessoal como líderes de adoração. Eu sei que no começo nós copiamos muito dos maneirismos e palavras de outros líderes. E tudo bem, desde que não seja forçado e acabe minando sua autoridade e autenticidade. As pessoas querem ouvir você e ser lideradas por você enquanto você está debaixo da liderança do Espírito. Não estão preocupadas que você fale algo sensacional e inovador, muito menos que repita mecanicamente qualquer “incentivo”. Então, salve esses 5 passos. Eles são importantes e práticos. Porque a tentação de falar demais, se colocar no centro, improvisar sem direção ou resistir ao mover do Espírito vai sempre bater na porta, por diferentes razões (que nem valem muito pensar a respeito). Relembrar esses “mandamentos” é uma forma de manter o coração no lugar certo: humilde, sensível e submisso ao verdadeiro Líder da adoração: o próprio Jesus.
Leandro Gomes
Pastor e Lider De Louvor
Vineyard Curitiba