Por Luke Geraty – Radcliffe Vineyard
Com o recente ataque de Israel ao Irã, muitos livros sobre o fim dos tempos começarão a surgir em breve. Mas como devemos pensar sobre os “últimos dias”?
No dia 12 Junho de 2025, Israel atacou o Irã e parece que estamos à beira de uma guerra em grande escala no Oriente Médio. Já estou nessa estrada há tempo suficiente para saber que autores e editoras vão aproveitar a oportunidade para vender livros sobre o “fim dos tempos”, e posso praticamente garantir que dentro de uma semana já veremos anúncios por aí.
Foi assim com as “luas de sangue”, quando Pat Robertson não perdeu tempo e centenas de livros apareceram ao longo dos anos, tentando explicar com gráficos e mapas como cada nação se encaixa nas profecias do livro de Daniel. Isso me lembra quando estudei teologia na graduação e fiz um curso sobre Daniel com um livro-texto que explicava como a União Soviética se encaixava nas nações mencionadas por Daniel… mesmo sendo início dos anos 2000 e a URSS já nem existia mais.
É um caminho muito conhecido. E dá muito dinheiro.
Então, como alguém com uma perspectiva “Carismática Sacramental” aborda o tema da escatologia?
Não tenho a intenção de fazer uma teologia bíblica completa nem de analisar exaustivamente todos os textos. Em vez disso, quero fazer duas sugestões e indicar alguns recursos úteis para fortalecer nossa compreensão sobre o assunto. Vamos lá!
1️⃣ A Segunda Vinda de Jesus é a nossa grande esperança.
Escrevendo aos tessalonicenses, Paulo disse que não deveríamos ser ignorantes quanto às questões escatológicas, mas sim bem informados (1Ts 4:13). Afinal, a Segunda Vinda e a nossa futura ressurreição são fontes de esperança e encorajamento (1Ts 4:13-18). Mais do que isso, devemos aguardar ansiosamente esse dia (Tt 2:12-13).
Infelizmente, muitos de nós fomos negativamente influenciados pela enxurrada de livros sensacionalistas sobre o assunto, que mais tentam vender medo do que apresentar uma teologia bíblica sólida. Desde títulos bobos como “88 Razões Por Que o Arrebatamento Será em 1988” até os livros e filmes da série “Deixados Para Trás”, muita gente acabou perdendo o interesse ou ficando cética em relação ao tema da Segunda Vinda.
Mas a Segunda Vinda é uma promessa gloriosa do futuro! Jesus voltará e estabelecerá seu Reino em plenitude! Sim, devemos discernir melhor o tipo de literatura que consumimos e perceber quando alguém está apenas tentando vender livros ou explorar a ignorância escatológica… mas nunca podemos minimizar a importância central da Segunda Vinda. Ela é mencionada em centenas de passagens bíblicas, foi considerada doutrina fundamental pela igreja primitiva, está no Credo dos Apóstolos e aparece nos escritos dos Pais da Igreja.
2️⃣ Só há duas visões escatológicas realmente compatíveis com uma teologia “Carismática Sacramental”.
Essa parte vai ser meio polêmica, mas lá vai:
O Pré-Milenismo Dispensacionalista deve ser completamente abandonado por quem faz parte da tradição carismática.
Além de se basear em uma exegese muito fraca, é uma visão relativamente recente e que, pior ainda, enfraquece a continuidade dos dons espirituais. Como diz a Bíblia de Estudo “Spirit-Filled Life”, editada por Jack Hayford:
“Curiosamente, muitos da tradição pentecostal/carismática interpretam Apocalipse e Daniel a partir da perspectiva dispensacionalista, mesmo que esse tipo de abordagem, em qualquer outra parte das Escrituras, negasse a atualidade dos dons do Espírito.”
Se devemos deixar de lado a escatologia de “Deixados Para Trás”, o que então devemos abraçar? Na minha opinião, só há duas visões que fazem justiça às Escrituras:
1. Pré-Milenismo Histórico
Talvez a visão mais antiga da história da igreja. Entre os evangélicos, foi popularizada por George Eldon Ladd em seu livro A Bendita Esperança e outros escritos. Também é a visão de Craig Keener e está bem resumida em 40 Perguntas Sobre o Fim dos Tempos, de Eckhard Schnabel.
A ideia central é que a Segunda Vinda é um único evento, e não dois (ou seja, não existe um “arrebatamento secreto” separado).
2. Amilenismo
Interpreta muito da escatologia de forma simbólica. Tem defensores sólidos ao longo da história da igreja. Costuma ler Apocalipse de forma eclética, reconhecendo os aspectos preteristas, históricos, futuristas e espiritualizados da profecia bíblica.
O melhor argumento contemporâneo para essa visão está em O Reino Vem: A Alternativa Amilenista, de Sam Storms.
Essas duas abordagens combinam bem com a teologia “já e ainda não” da Escatologia Inaugurada, que é o pano de fundo do movimento Vineyard e de boa parte da teologia carismática mais saudável.
Eu costumo brincar que sou Amilenista ou Pré-Milenista Histórico quatro dias por semana… e nos outros três, troco! Vai depender da semana 😄
Mas e o Dispensacionalismo?
Apesar de muito popular nos EUA, o Dispensacionalismo Pré-Milenista é uma visão tão frágil biblicamente que nem deveria entrar na conversa. Pronto, falei.
Há também uma terceira posição ganhando espaço, especialmente em círculos da NAR (Nova Reforma Apostólica), que é o Pós-Milenismo.
A ideia de que o mundo será “cristianizado” por uma igreja vitoriosa e que viveremos o Milênio antes da volta de Jesus.
Eu, particularmente, não acho essa visão convincente. E concordo com a avaliação de George Ladd:
“Há tão pouco apelo às Escrituras que tenho pouco a criticar. A ideia de que o mundo está melhorando é uma espada de dois gumes. Da mesma forma, pode-se argumentar, por pura observação, que o mundo está piorando.
Nos tempos do Novo Testamento, havia a Pax Romana – dois séculos de relativa paz no Mediterrâneo. Isso nunca mais se repetiu.
Em nossa vida, vimos duas guerras mundiais e uma série interminável de guerras menores – Coreia, Vietnã, Oriente Médio, Irlanda, Líbano.
Vimos o surgimento do nazismo e o massacre de seis milhões de judeus, o surgimento e queda do fascismo, o crescimento e estabilização dos governos comunistas.
O mundo hoje é literalmente um acampamento armado.”
(George Ladd, O Significado do Milênio: Quatro Visões, p. 143)
📌 Conclusão
Meu primeiro ponto (sobre a esperança da Segunda Vinda) é algo com que todo cristão deveria concordar.
O segundo ponto (sobre quais visões escatológicas são mais coerentes) é algo com que você pode discordar de mim… e tudo bem, ainda te considero cristão 😄.
Na pequena comunidade com a qual estou ligado (a Vineyard), é bom lembrar que John Wimber concordava com meu segundo ponto e foi profundamente influenciado por George Ladd. No entanto, Wimber nunca fez uma defesa forte de uma única visão escatológica, e acredito que isso se devia ao seu coração ecumênico.
No livro Breakthrough, um dos mais importantes da Vineyard sobre o Reino, Derek Morphew escreve:
“Tanto o pré-milenismo histórico quanto o amilenismo conseguem manter o equilíbrio do ensino do Novo Testamento. As diferenças entre eles não são tão grandes quanto muitos imaginam.”
Manter o equilíbrio é realmente o espírito da teologia Carismática Sacramental.
A gente prefere uma abordagem “ambos/e” em vez de “um ou outro”.