Por Luke Geraty
Jesus foi um exorcista por excelência e engajava-se regularmente no que muitos descrevem como um “confronto de reinos”. E quanto à opressão demoníaca e ao ministério de libertação? Vamos conversar sobre isso…
Tive algumas experiências na vida que só consigo descrever como encontros com o demoníaco. Algumas aconteceram no ambiente privado da minha casa, com fenômenos que, embora difíceis de explicar, se enquadram na categoria de “ataques espirituais”, e outras com pessoas que “manifestaram” opressão demoníaca. Vou compartilhar uma dessas histórias abaixo.
Historicamente, os evangélicos conservadores têm sustentado que cristãos não podem ser possuídos por demônios, enquanto muitos cristãos carismáticos/pentecostais acreditam que diversos cristãos já foram libertos de demônios, com base em suas experiências com o “ministério de libertação”. Qual visão está correta? E será que existe uma maneira de “costurar” essas duas perspectivas? A seguir, quero apresentar uma proposta para o que chamo de uma abordagem “carismática sacramental” da guerra espiritual — ou, pelo menos, algumas sugestões para levar a guerra espiritual a sério e saber como resistir ao reino das trevas.
Este não é um texto exaustivo sobre guerra espiritual e ministério de libertação. Mas quero compartilhar alguns pensamentos para dar início a essa conversa…
Uma Cosmovisão de Conflito de Reinos
É difícil rejeitar a noção de que a Bíblia apresenta uma cosmovisão baseada em um “confronto de reinos”. Gregory Boyd descreve isso como uma “cosmovisão de guerra” e argumenta de forma convincente em seu excelente livro God at War: The Bible & Spiritual Conflict. Boyd escreve:
“Se você não acredita na realidade de agentes espirituais bons e maus, voce altera fundamentalmente a narrativa das Escrituras. O motivo da guerra espiritual é um fio condutor tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. E, no NT, o significado do que Jesus estava fazendo em sua vida, ministério, morte e ressurreição está fundamentalmente ligado à crença na guerra espiritual. Tire Satanás da equação e você remove uma das razões fundamentais pelas quais Jesus veio à Terra!”
John Wimber escreveu sobre isso no clássico Power Evangelism. Observando a grande diferença entre as cosmovisões do Oriente e do Ocidente, Wimber comentou:
“Cosmovisões não ocidentais dão espaço para todo tipo de intervenção sobrenatural na vida cotidiana, então a ideia de que um Deus cristão pode curar é fácil para elas aceitarem. Mas nós, cristãos ocidentais, ao excluirmos essa ‘zona intermediária’, geralmente não damos espaço para o que a Escritura considera normal: a atividade regular tanto de Deus quanto de Satanás na vida humana.”
Isso faz sentido à luz do que lemos no Novo Testamento. 1 João 3:8 declara que “o Filho de Deus se manifestou para destruir as obras do diabo”, e Jesus nos lembrou de que “o ladrão vem somente para roubar, matar e destruir” (João 10:10). O reconhecimento desse “confronto de reinos” é uma consequência do ensino do NT de que o Reino de Deus é “já e ainda não”, o que os estudiosos chamam de Escatologia Inaugurada (cf. The Presence of the Future, de George Ladd). Embora Jesus tenha vencido na cruz, essa vitória não será plenamente concretizada até a consumação dos séculos. Até lá, vivemos em meio a um confronto entre dois reinos: o Reino de Deus e o reino das trevas.
Possessão ou Opressão Demoníaca
Quando se pensa em “possessão demoníaca”, é quase inevitável imaginar filmes de terror como O Exorcista, onde pessoas são completamente controladas pelo diabo ou por demônios. Naturalmente, a pergunta que surge é: “Um cristão pode ter um demônio?” É uma pergunta justa, e a resposta depende muito do que se quer dizer com “ter”.
Dito isso, acredito que é totalmente possível que seguidores de Jesus estejam sob ataque espiritual e opressão demoníaca. Embora seguidores de Jesus não possam ser controlados ou forçados por demônios a agir de determinada forma, eles podem sim ser influenciados por forças demoníacas. Em minha compreensão, essa é a melhor forma de interpretar o termo grego daimonizomai, que Bill Mounce explica em seu popular Dicionário Completo das Palavras do Antigo e Novo Testamento:
“Daimonizomai refere-se à ação de possessão ou opressão demoníaca. Essa palavra pode se referir à possessão em si (Mt 8:16; Mc 1:32), ou a doenças induzidas por demônios (Mt 9:32; 12:22; 15:22), ou a ações controladas por demônios (Mc 5:16, 18; Lc 8:36), que podem evocar comportamentos destrutivos (Mt 8:28). Como é difícil, às vezes, estabelecer graus de possessão demoníaca, é melhor entender daimonizomai como significando também opressão demoníaca.”
Algumas pessoas são possuídas por demônios? Sim. Algumas são oprimidas? Também. Como saber qual é qual? Esse é o desafio!
“Isso é Guerra Espiritual?”
Cerca de quinze anos atrás, eu estava em uma reunião de oração com membros da minha comunidade e alguns visitantes. Após cantarmos juntos, passamos para um tempo de oração, o que em minha tradição é chamado de “tempo de ministério”.
Durante a oração, uma jovem pediu que orássemos por ela, pois estava enfrentando dificuldades. Nos reunimos ao seu redor e, com sua permissão, impusemos as mãos e começamos a orar. À medida que orávamos, a iluminação do cômodo ficou repentinamente mais escura, a ponto de parecer que havia algum problema elétrico. Continuamos orando e, depois de alguns minutos, perguntei o que ela gostaria de pedir em oração.
De repente, ela começou a ter dificuldade para falar. Não conseguia formar frases coerentes. Tendo já visto pessoas tendo AVCs, achei que não era o caso — parecia mais confusão mental e emocional. Além disso, o ambiente estava estranho, pesado.
O que era aquilo? Um problema médico? Um colapso emocional? Um curto-circuito? Essas perguntas sempre surgem quando lidamos com o que muitos chamam de “encontros de poder”.
Ao ouvirmos o que ela conseguia expressar, ela disse que se sentia muito confusa, sem conseguir focar e constantemente distraída na vida. Uma mulher do grupo de oração, chamada Jane, sentiu o Espírito Santo conduzindo para que a jovem invocasse o nome do Senhor, como diz Romanos 10:13. Não sabíamos se ela era cristã, mas isso pouco importava. Invocar o nome do Senhor é a postura correta para todos os seguidores de Jesus.
Incentivamos a jovem a clamar por Jesus. Naquela sala escura, ela tentava dizer o nome “Jesus”, mas as palavras não saíam! Era como se sua boca estivesse travada. Continuamos orando. Finalmente, depois de muita intercessão, ela conseguiu dizer “JESUS!” — e imediatamente a luz voltou e ela começou a chorar!
Liberdade.
Depois, ela compartilhou sobre a batalha espiritual que vinha enfrentando: sempre que tentava orar ou ler a Bíblia, sua mente se confundia e tudo travava. Uma pessoa do grupo perguntou: “Você acha que isso foi guerra espiritual?” Ótima pergunta. Para mim, isso é exatamente o que parece: guerra espiritual, difícil de descrever de outra forma senão como opressão demoníaca.
Discernindo o Ministério de Libertação
Quais perguntas devemos fazer para discernir se há necessidade de libertação? Como saber o que fazer diante da experiência das pessoas com a presença de Deus?
Algumas reflexões:
1. O evangelho é o aspecto mais importante da guerra do Reino, pois é o meio pelo qual somos libertos do domínio das trevas e “transportados para o Reino do Filho” (Cl 1:13). Como disse John Wimber: “qualquer tipo de evangelismo é evangelismo de poder”. Quando proclamamos a morte, sepultamento e ressurreição de Jesus, estamos travando uma guerra espiritual.
Tiago dá um conselho poderoso:
“Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês. Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês.” (Tg 4:7-8)
2. Algumas doenças e distúrbios mentais podem ter origem demoníaca. Nem todos os casos, claro. Mas acredito que muitos sim. Esse tema merece um artigo à parte. Precisamos de discernimento seguro, amoroso e humano para lidar com isso — e reconhecer que Jesus constantemente libertava pessoas assim.
3. Os frutos observáveis na vida das pessoas são pistas. A jovem da história enfrentava confusão, caos e incapacidade de adorar. Isso indica ação do inimigo, pois “Deus não é Deus de desordem, mas de paz” (1 Cor 14:33). Avaliar o que vemos e ouvimos à luz de Filipenses 4:8 e Gálatas 5:19-23 ajuda muito.
Uma Abordagem Carismática Sacramental da Guerra Espiritual
Como um “carismático sacramental”, afirmo: guerra espiritual é real e muitas pessoas sofrem com opressão demoníaca. A mensagem do evangelho do Reino é o principal instrumento de libertação. Práticas espirituais como o batismo e a Ceia do Senhor nos colocam em um espaço onde o Espírito opera poderosamente para reorientar nossas vidas ao redor de Jesus.
Também é importante lembrar:
Nem 👏 tudo 👏 é 👏 um 👏 demônio 👏
Às vezes, é apenas tolice humana (veja os Provérbios). Às vezes, há causas biológicas. Ignorar isso pode ferir pessoas.
Mas, por outro lado, muitas coisas que descartamos como naturais podem ser, de fato, guerra espiritual. O “carismático sacramental” é aquele que, em toda situação, diz: “Vem, Espírito Santo”, e escuta com atenção tanto a voz do Espírito quanto as necessidades da pessoa. Isso é o modo do Reino: discernir com amor e verdade.
Não cristãos podem ser possuídos? Sim. Cristãos? Eu diria que não. Mas cristãos podem ser oprimidos? Sim! E precisamos nos engajar mais em resistir às trevas e ver pessoas sendo libertas. Afinal, Jesus veio para libertar os cativos.
O que você achou desse artigo?
Luke Geraty é um pastor-teólogo no norte da Califórnia. Com alguns diplomas em teologia e quase vinte e oito anos de experiência em liderança eclesiástica, Luke ama a Bíblia, a teologia, a pesca com mosca, café e livros. Todas as opiniões expressas são dele e não representam as organizações com as quais ele está afiliado. Você pode segui-lo no Twitter, Instagram e se inscrever no canal dele no YouTube.
Fonte: https://sacramentalcharismatic.substack.com/p/spiritual-warfare-a-sacramental-charismatic